Houve alguma vez em seu pensamento algo que não iria lhe edificar, ou pior, algo que mais parecia um convite para um pecado? A resposta é sim! E isso acontece porque a natureza do homem é inicialmente corrompida, inclinada para o mal por causa do pecado original (o primeiro pecado da humanidade cometido por Adão). Podemos observar em Efésios 2.1-3:
“Ele nos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne, e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.”
O homem, inicialmente feito à imagem e semelhança de Deus, perdeu esse “status” quando Adão pecou, por isso todos nós herdamos as consequências do seu pecado. Antes eramos perfeitos na graça de Deus (Gn 1.31), agora imperfeitos e com um coração impuro (Mt 15.18-19), somos inclinados para os desejos da carne, ou seja, para os nossos desejos egoístas.
Não me surpreende saber que pensamentos impuros possam surgir em nossas mentes (Ef 4.17). Pensamentos a cerca de coisas ruins, que se realizadas se tornariam um pecado explícito. Isso é bem lógico uma vez que “a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice” (Gn 8.21). Por isso a necessidade da santificação e a busca pelo Fruto do Espírito Santo, precisamos deixar que Deus converta essa natureza “carnal” em uma natureza santificada através de Sua graça e misericórdia.
Mas, antes de falar mais sobre os pensamentos e a relação destes com a tentação e o pecado eu gostaria de falar um pouco sobre o Fruto do Espírito. É muito importante dizer como filhos de Deus que durante toda a nossa caminhada cristã sempre seremos confrontados com uma escolha de duas possibilidades: Escolher fazer algo ou alguma coisa pela nossa própria vontade ou através da vontade de Deus. O mais interessante é que a cade vez que escolhemos fazer a vontade de Deus, passamos a entendemos que a vontade Dele é boa e agradável para as nossas vidas (Rm 12.2).
Deus quer que busquemos o Fruto do Espírito, porque a vontade dele é que sejamos santos (Gl 5.25) e o Fruto do Espírito é uma consequência natural da busca diária pela santidade.
Podemos entender melhor o que é o Fruto do Espírito em Gálatas 5.22-23:
“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.”
Em todo o capítulo cinco desse livro poderemos entender as diferenças entre o fruto do Espírito e os desejos da carne. De qualquer forma, eu resumo isso ao entendimento de que o Fruto do Espírito diz respeito a um conjunto de atitudes demonstradas por Jesus Cristo, enquanto os desejos da carne estão relacionados ao que provém da inclinação do homem para o mal. Observe que mais uma vez você se depara com uma situação em que há uma escolha de duas possibilidades: Manifestar em nossas atitudes o Fruto do Espírito ou os desejos da carne.
“Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança ...” (II Tm 3.10)
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade.” (Cl 3.12)
Vamos lá, isso não é tão difícil de compreender. Vou lhe dar um exemplo:
Ao entrar em casa o sofá está destruído, a geladeira revirada, existe papel higiênico espalhado por toda a sala e o querido Totó (Cachorro de estimação) esteja ali, quietinho no meio dessa confusão, abanando o rabo porque o seu tão querido dono acabou de chegar. Já vi esse cenário antes! Conheço muitas pessoas cuja primeira reação seria gritar bem alto: “Seu cachorro a$¨@*(&#!”. Certamente essa pessoa acabou xingando o coitado do cachorro que havia feito uma boa festa na ausência de seu dono. Observem que o dono do cachorro foi impulsivo e não teve controle de si mesmo. Uma outra possibilidade seria o dono do cachorro manter a calma, se controlar e ir resolver tal situação com calma e paciência, pois, no final das contas não há muito a ser feito além de pegar a vassoura, a pá, e ir limpar toda essa bagunça. Estão vendo como é importante buscar o fruto do Espírito? Uma das atitudes do fruto do Espírito é o autocontrole, domínio próprio, portanto, inaceitável é a atitude de alguns cristãos em dizer que determinada atitude ou reação pecaminosa teve origem a partir de uma impulsividade.
Veja só, fale: “Eu amo Jesus Cristo”. Antes de você falar você teve que pensar em cada palavra, em cada letra, na construção das palavras através das letras, na fonética exposta por cada palavra, na junção das palavras para a construção da frase, na exteriorização da frase com relação ao seu significado até que de fato você possa falar essa frase. Tá certo, parece um pouco maluco dizer que você fez isso tudo em uma fração de segundos e ainda pensou em cada etapa, mas realmente, isso aconteceu!
Você já não percebe tudo isso com tanta clareza porque durante toda a sua vida você fez isso, desde criança, quando estávamos aprendendo as nossas primeiras palavras, quando começamos a estudar nas aulas de português a junção das letras formando sílabas que por fim virariam palavras, no ensino médio estudamos a composição de uma frase através de palavras, e por aí vai... Até mesmo para aqueles que nunca frequentaram uma escola isso é bastante claro, pois durante toda a nossa vida nós aprendemos a nos comunicar e o ato de se comunicar se torna um processo lógico ao longo do tempo.
Outro erro bastante perigoso é atribuir um pecado a algo que aconteceu “por acidente”. Imaginem se toda e qualquer circunstância se transforma em um “pecado por acidente”? Deus foi bem claro a respeito disso falando conosco através da bíblia, o nosso papel é ser fiel a Ele e confiar Nele (Gl 5.13, Ef 4.30, I Ts 5.22-23, II Ts 3.3). Um pecado por acidente, é um pecado com um “acidente” proposital, planejado, a mesma velha história da má interpretação da definição de pecado “errar o alvo”, quando na verdade aquele que errou o alvo sabia onde o alvo estava e para onde apontar. Não ficou claro? Veja o que está escrito em I Coríntios 10.13:
“Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.”
Essa passagem da bíblia nos diz pelo menos três coisas:
1) Todas as tentações que você enfrenta ou enfrentará serão as mesmas que os outros enfrentarão. Se existe alguém que está passando por uma dificuldade muito grande, pode ter certeza que existem outras pessoas que estão passando por uma dificuldade semelhante ou pior.
2) Deus é Fiel, Ele não permite que sejamos tentados além do que podemos suportar, além de nossas forças.
3) Junto com a tentação recebemos também o livramento, no final das contas cabe ao cristão escolher o caminho do livramento ou o caminho do pecado. Sempre poderemos nos livrar das tentações.
Glória a Deus, como ele é maravilhoso, junto com a tentação ele provê também o escape!
E mais um vez voltamos para o dilema dos dois caminhos, uma escolha a ser feita com duas possibilidades, ou escolhemos o caminho do livramento ou escolhemos o caminho oferecido pela tentação (o pecado), mesmo que esse caminho seja difícil ou árduo. Mateus 7.13-14:
“Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.”
Em João 17.6 está escrito:
“Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.”
Chegamos à conclusão de que sempre seremos tentados, mesmo que a tentação seja muito “forte”, sempre teremos a opção de escolha e a opção mais difícil será aquela pela qual demonstraremos verdadeiramente o nosso amor por Deus.
O processo de tentação não é tão complicado; seremos tentados a um mal, teremos a opção de fugir desse caminho mal, caso concordemos com esse caminho mal, ou, caso tenhamos prazer desse caminho mal (que é uma outra forma de concordar) então teremos pecado.
Não existe pecado sem tentação, mas existe tentação sem pecado. É por isso que todo pecado começa nas mentes das pessoas, nos pensamentos, pode ter origem externa ou interna. Tem origem externa quando, em uma determinada situação, eventos estão acontecendo no momento em que a tentação surge e tais eventos estão diretamente ligados à tentação, como por exemplo um homem em pé distraído no meio da rua e uma mulher de repente surge fazendo striptease.
A tentação pode ter origem interna quando o coração do homem está poluído com algo e esse algo se torna uma “brecha” para a tentação, por exemplo, o mesmo homem do exemplo anterior tem problemas na área sexual e do nada surgiu o pensamento a cerca de uma mulher fazendo striptease.
Para ser mais claro vou dar outro exemplo, uma pessoa que tem prazer em roubar, encontra-se com determinado objeto que tanto deseja e o rouba. Ele foi tentado no momento em que viu o objeto que desejava (motivação externa), mas, apesar disso, ele tinha antes o prazer e o hábito de roubar (motivação interna). Em um processo de tentação a motivação pode ser, tanto externa, quanto interna ou até mesmo ambas. O fato é que, antes do ladrão roubar ele teve que concordar ou ter prazer na ideia de roubar o objeto antes do momento de ir lá e “meter a mão”.
A tentação pode ter motivação/origem interna ou externa, mas o pecado tem origem interna, porque O HOMEM que foi tentado ESCOLHEU pecar. Mais ainda, o pecado tem origem no pensamento, porque antes dele executar o ato pecaminoso, em seu pensamento ele teve que concordar em realizar tal ato ou até mesmo ter prazer na realização do ato pecaminoso.
Existe um processo simplificado para a origem do pecado, no pensamento, através da tentação. Primeiro surge um pensamento, a tentação, logo em seguida aquele pensamento começa a ficar forte. Até aqui não houve pecado – porém nesse ponto o tentado tem uma escolha a ser feita. Logo em seguida, aquele que está sendo tentado começa a ter prazer naquele pensamento mau e por fim ele concorda com o pensamento mau. Se no momento em que o pensamento ficou forte o tentado fugisse daquilo, daquela tentação, escolhesse fazer qualquer outra que não fosse concordar e/ou ter prazer no infeliz pensamento, então o tentado teria escolhido a porta estreita, o caminho difícil e teria escolhido o livramento ao invés de satisfazer os desejos da carne.
Em uma aula de Escola Bíblica Dominical eu ouvi o testemunho de uma irmã a respeito do que ela faz para se livrar do pensamento mau (tentação) quando este fica forte. Ela disse que simplesmente começa a cantar louvores, então o pensamento mau vai embora. Esse testemunho edificou muito a minha vida, porque desde então quando estou triste a primeira coisa que eu faço é escutar algum louvor e então a tristeza vai embora. A tristeza pode ser uma forma de tentação. Existem muitas coisas que muitas pessoas fazem para não cair em tentação, vai do esforço pessoal de cada um e da disposição do seu coração em seguir caminhos determinados por Deus.
Quanto estou sofrendo uma tentação eu digo (mentalmente): “Deus, guia e protege os meus pensamentos, guia e protege as minhas atitudes, guia e protege os meus olhos, conduz a minha vida conforme a Tua vontade, livra-me dessa tentação porque eu te amo e não vale a pena me afastar da Tua presença!”
Para finalizar, faço novamente a mesma pergunta do começo deste artigo:
Alguma vez, houve em seu pensamento algo que não iria lhe edificar, ou pior, algo que mais parecia um convite para um pecado?
A minha resposta é: Sim! E muitas vezes eu pequei no mesmo pensamento, confesso! Já tive prazer com determinado pensamento mau, outras vezes concordei com um pensamento mau, alguns com os quais eu concordei eu os realizei, já entristeci pessoas com palavras, já entristeci pessoas com atitudes e tenho plena consciência de que, ao pecar, antes, eu havia concordado com o pecado no pensamento, o fato de realizar o pensamento mau ou exteriorizá-lo foi um outro pecado; ao final das contas um abismo sempre leva a um outro pior. Não tenho orgulho de qualquer destas coisas, saiba que o pecado dói e o seu preço é muito alto!
Isso não quer dizer que eu não esteja buscado os caminhos de Deus, a cada dia eu procuro me santificar, manifestar o Fruto do Espírito e a cada dia essa tarefa se torna menos difícil para mim. Dia após dia eu compreendo que, apesar de estreita a porta e difícil o caminho, vale a pena escolher a vontade de Deus para as nossas vidas.
“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12.2)
Francisco Caio Silva Ladislau